domingo, 22 de março de 2009

Capítulo XVI - A Surpresa


Na chegada ao bordel, uma mansão estilo
art nouveau finamente decorada com móveis e objetos da Belle Époque, Jeitosinha foi conduzida à presença de Madame Mary, a cafetina, uma mulher envolta em mistério, que nunca mostrara o rosto, sempre coberto por uma máscara de renda de seda. Caminhando lentamente pelo longo corredor de paredes revestidas em veludo vermelho, Jeitosinha podia ouvir ruídos de prazer que emanavam dos quartos. Algumas portas entreabertas, talvez propositadamente por capricho exibicionista de algum cliente, tornavam aquela atmosfera excitante.
Bruno havia bebido a tarde inteira, buscando no álcool a coragem necessária para por à prova sua masculinidade. Por esta razão, a imagem de Jeitosinha à porta do quarto, observando-o em pleno ato de amor com um travesti, pareceu-lhe uma alucinação.
- Amor... Não é nada disso que você está pensando! - disse o rapaz, sem muita inspiração.
Recuperando a sobriedade, foi tomado por um tipo diferente de perplexidade.
- Mas... espera aí... o que você está fazendo aqui? - perguntou Bruno à sua amada, enquanto a prostituta, prevendo o quiproquó, saia de fininho.
Cheia de revolta, Jeitosinha disse a primeira coisa que lhe ocorreu para ferir Bruno:
- O que lhe parece? Pelo visto você prefere as morenas! Mas nós, loiras, somos muito melhores na arte de enlouquecer os homens.
- Não! Não pode ser, meu amor! Diga que é um sonho! Me belisca para eu sentir dor e acordar!
- Depois do que eu vi pela fresta da porta, tem certeza de que não tem nada doendo aí? - alfinetou jeitosinha, cheia de ironia.
- Não! Você não! Não pode ser! Não pode ser! - Bruno puxava os próprios cabelos com violência e rolava pelo chão num desespero patético.
Jeitosinha apenas jogou os cabelos longos para o lado, naquele gesto superior com que as loiras costumam descartar os simples mortais e retirou-se do ambiente.
Seu coração por dentro estava em frangalhos, mas o que Bruno viu foi a imagem de uma mulher fria.
Com passos precisos e a elegância de uma modelo, Jeitosinha atravessou o corredor em direção ao gabinete de Madame Mary. Lá dentro, tombou de joelhos e começou a chorar.
- O que é isso minha querida? - disse a cafetina com ar protetor.
- Não pode ser, Madame! Meu amado Bruno! Um homem tão puro e íntegro! Aqui! Com aquela... aquela...
A certeza de que não era tão diferente da exótica morena impedia Jeitosinha de achar a palavra certa.
- Os homens são todos iguais, minha criança - disse Mary, acariciando a loira. - São animais capazes de qualquer coisa por um momento de luxúria. Eles nunca saberão o que é o amor verdadeiro. É justamente isso que torna tão fascinante a nossa arte da sedução.
Jeitosinha levantou os olhos e, agarrando-se às pernas da misteriosa mulher, implorou:
- Ajude-me, Madame! Ajude-me a ser como você!
- Claro, querida. Claro.
Madame Mary sabia que tinha nas mãos um diamante em estado bruto, pronto para ser lapidado na dor de um coração partido.

Será o começo de uma nova vida para Jeitosinha?

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