terça-feira, 31 de março de 2009

Capítulo XXIV - Ele Morreu?


A detetive Vanessa sentou-se no sofá que outrora estivera coberto pelo sangue de Ambrósio. Acendeu um cigarro e cruzou lentamente as pernas, numa cena instintivamente selvagem.
- Creio que a senhora chegou tarde.- apressou-se em explicar Marilena. - Meu marido já voltou.
- Ele é o Ambrósio? - espantou-se Vanessa, sem conseguir esconder sua expressão de asco. - E o que, ou quem, fez isso a ele?
- Ainda não sabemos. - disse Arlindo.
- Com certeza foi algum acidente. - emendou Jeitosinha, um pouco nervosa.
A experiente Vanessa percebeu o ambiente pesado no ar. "Aqui, com certeza, se escondem grandes segredos." - pensou.
Fascinada pelo ofício, naquele momento a bela detetive soube que não teria sossego enquanto não desvendasse cada detalhe do que já chamava de "O Caso Ambrósio".
- Conte-me, meu bom homem, quem lhe feriu?
Ambrósio tremeu à simples lembrança de fragmentos da cena, que ele sequer conseguia verbalizar.
- N-não me lembro. Não quero saber. Eu estou bem.
A mulher o tocou carinhosamente.
- Procure se lembrar... estas marcas... foi, sem dúvida, uma arma cortante. Talvez uma lâmina grossa... uma serra...
- Não! - Ambrósio encolheu-se, em pânico, protegendo a cabeça com as mãos.
Jeitosinha sentiu um arrepio na espinha. E se o pai recobrasse a memória?
A detetive continuou seu trabalho. - Procure se lembrar... uma pessoa, uma imagem...
Ambrósio subitamente silenciou-se. Com os olhos fixos na linda policial exclamou baixinho:
- Sim... eu me lembro de algo. Sim!
- O quê? O quê? - a excitação de Vanessa era quase sexual.
- Foi ela! Foi ela! - gritou, apontando para Jeitosinha.
-É mentira! - gritou Jeitosinha.
-Cale-se! Deixe o homem concluir seu relato! - disse a detetive. E voltando-se para Ambrósio:
- Diga, senhor. Ela fez isso com você? E depois?
- Depois homens verdes numa nave espacial me trouxeram de volta à vida!
A policial sorriu, constrangida, e abraçou o fragilizado homem.
- Homens verdes? É uma alucinação, sem dúvida. Por hoje é só. Mas me aguardem. Vou continuar as investigações.
Jeitosinha sentiu-se mais leve. Marilena e Arlindo olharam para o pai e para a loira, com expressões indecifráveis.

Longe dali, a primeira coisa que Bruno viu foi uma luz branca e intensa. O rosto de Jeitosinha sorria para ele, emoldurado por centenas de pênis de todos os tamanhos e formas. - Estou na paraíso! - sussurrou.
Mas o delírio foi interrompido pela penetração contundente de uma agulha de injeção em seu braço. De olhos abertos, o confuso rapaz viu um homem de roupa alva, parado ao lado da cama de hospital onde estava deitado.
- Você nasceu de novo, filho. A bala acertou de raspão a sua fronte.
- O-onde estou?
- Na enfermaria.
Bruno percorreu o lugar com os olhos e não acreditou no que viu. Com uma touca cobrindo os cabelos, adormecida na cama ao lado, encontrava-se ninguém menos que a sua amada.
- Jeitosinha! - exclamou.
- Só se for nome de guerra. - corrigiu o médico. - Ele chegou aqui como Adenair, agora é Adenaíra.
- Adenaíra? - espantou-se.
- Sim. Ele submeteu-se ontem a uma cirurgia para mudança de sexo. Mas talvez nunca aproveite sua nova anatomia.
- Porquê doutor? Porquê?
O homem tomou um longo fôlego antes de explicar a Bruno o drama do ex-irmão, agora irmã, de Jeitosinha.

Que será que deu errado com Adenaíra?

0 comentários: