sábado, 28 de março de 2009

Capítulo XXI - O Bilhete de Adenair


O sol despencou no horizonte, tingindo o céu de vermelho. A silhueta perfeita de Jeitosinha, seus longos cabelos loiros, seios voluptuosos, coxas grossas e bunda empinada, recortados pelo céu do entardecer, eram uma visão idílica. A moça coçou o saco e cuspiu no chão.
- Porra, mais essa agora. Achei muito bom ser homem... - resmungou, no jardim florido da casa de Madame Mary, ainda sentindo na boca o gosto de sexo.
Da janela, a ruiva que havia sido possuída por Jeitosinha, cujo nome de guerra era Beth Balanço, suspirava diante da visão do mais radiante e sensual ser humano que já havia conhecido. E olha que ela já tinha transado com metade da torcida do Corinthians.

Em seu apartamento, do outro lado da cidade, o angustiado Bruno olhava fixamente o revólver que empunhava. Acabar com a própria vida parecia ser a solução mais plausível para conseguir um pouco de conforto.

Na casa de Jeitosinha, um fio de lágrima escorria pelo rosto de Marilena enquanto ela lia o bilhete deixado por seu filho, Adenair:
"Querida mamãe, sem a presença opressora de papai, não vejo mais razão para negar minha própria natureza. A verdade é que, embora na teoria tenha dado à luz sete varões, na prática a senhora tem duas filhas. Me sinto tão mulher quanto Jeitosinha. Não tive, como ela, o privilégio de desfrutar da condição feminina, mesmo que por alguns anos de ilusão. Mas estou disposta a recuperar o tempo perdido. Amanhã terei extirpado de mim, definitivamente, a minha masculinidade. Quero ser uma mulher total. Então vou poder conquistar o coração do meu amado. Beijos, Adenaíra."
As pernas da sofrida mulher não conseguiram sustentar o peso do corpo. Sentada no sofá, amassando a pequena nota entre os dedos, Marilena pensava em como sua vida havia se transformado em questão de dias.
- Meu Deus! O que poderia ser pior? - perguntava-se, em voz alta.
Neste momento um homem sujo e deformado, metido em roupas fétidas, mancando e babando, abre abruptamente a porta.
- Querida, cheguei!
Ambrósio está de volta!

Como diz o ditado: "Não importa o quanto as coisas estejam ruins, elas sempre podem piorar."

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