terça-feira, 31 de março de 2009

Capítulo XXIV - Ele Morreu?


A detetive Vanessa sentou-se no sofá que outrora estivera coberto pelo sangue de Ambrósio. Acendeu um cigarro e cruzou lentamente as pernas, numa cena instintivamente selvagem.
- Creio que a senhora chegou tarde.- apressou-se em explicar Marilena. - Meu marido já voltou.
- Ele é o Ambrósio? - espantou-se Vanessa, sem conseguir esconder sua expressão de asco. - E o que, ou quem, fez isso a ele?
- Ainda não sabemos. - disse Arlindo.
- Com certeza foi algum acidente. - emendou Jeitosinha, um pouco nervosa.
A experiente Vanessa percebeu o ambiente pesado no ar. "Aqui, com certeza, se escondem grandes segredos." - pensou.
Fascinada pelo ofício, naquele momento a bela detetive soube que não teria sossego enquanto não desvendasse cada detalhe do que já chamava de "O Caso Ambrósio".
- Conte-me, meu bom homem, quem lhe feriu?
Ambrósio tremeu à simples lembrança de fragmentos da cena, que ele sequer conseguia verbalizar.
- N-não me lembro. Não quero saber. Eu estou bem.
A mulher o tocou carinhosamente.
- Procure se lembrar... estas marcas... foi, sem dúvida, uma arma cortante. Talvez uma lâmina grossa... uma serra...
- Não! - Ambrósio encolheu-se, em pânico, protegendo a cabeça com as mãos.
Jeitosinha sentiu um arrepio na espinha. E se o pai recobrasse a memória?
A detetive continuou seu trabalho. - Procure se lembrar... uma pessoa, uma imagem...
Ambrósio subitamente silenciou-se. Com os olhos fixos na linda policial exclamou baixinho:
- Sim... eu me lembro de algo. Sim!
- O quê? O quê? - a excitação de Vanessa era quase sexual.
- Foi ela! Foi ela! - gritou, apontando para Jeitosinha.
-É mentira! - gritou Jeitosinha.
-Cale-se! Deixe o homem concluir seu relato! - disse a detetive. E voltando-se para Ambrósio:
- Diga, senhor. Ela fez isso com você? E depois?
- Depois homens verdes numa nave espacial me trouxeram de volta à vida!
A policial sorriu, constrangida, e abraçou o fragilizado homem.
- Homens verdes? É uma alucinação, sem dúvida. Por hoje é só. Mas me aguardem. Vou continuar as investigações.
Jeitosinha sentiu-se mais leve. Marilena e Arlindo olharam para o pai e para a loira, com expressões indecifráveis.

Longe dali, a primeira coisa que Bruno viu foi uma luz branca e intensa. O rosto de Jeitosinha sorria para ele, emoldurado por centenas de pênis de todos os tamanhos e formas. - Estou na paraíso! - sussurrou.
Mas o delírio foi interrompido pela penetração contundente de uma agulha de injeção em seu braço. De olhos abertos, o confuso rapaz viu um homem de roupa alva, parado ao lado da cama de hospital onde estava deitado.
- Você nasceu de novo, filho. A bala acertou de raspão a sua fronte.
- O-onde estou?
- Na enfermaria.
Bruno percorreu o lugar com os olhos e não acreditou no que viu. Com uma touca cobrindo os cabelos, adormecida na cama ao lado, encontrava-se ninguém menos que a sua amada.
- Jeitosinha! - exclamou.
- Só se for nome de guerra. - corrigiu o médico. - Ele chegou aqui como Adenair, agora é Adenaíra.
- Adenaíra? - espantou-se.
- Sim. Ele submeteu-se ontem a uma cirurgia para mudança de sexo. Mas talvez nunca aproveite sua nova anatomia.
- Porquê doutor? Porquê?
O homem tomou um longo fôlego antes de explicar a Bruno o drama do ex-irmão, agora irmã, de Jeitosinha.

Que será que deu errado com Adenaíra?

segunda-feira, 30 de março de 2009

Capítulo XXIII - A Reação de Ambrósio


Por trinta segundos que pareceram uma eternidade, Jeitosinha e Ambrósio se encararam fixamente. Ela vinha aprendendo no bordel de Madame Mary tudo sobre a arte da dissimulação. E conseguiu camuflar o medo, a surpresa e a confusão mental que lhe causava a imagem, bem ali na sua frente, do homem que assassinara.
A expressão de Ambrósio era inocente, quase infantil. O fio de baba intermitente continuava a banhar-lhe o queixo. Com sua voz pastosa, após o constrangedor silêncio, ele perguntou:
- Quem é você?
Jeitosinha suspirou aliviada. Continuava sem entender o que havia acontecido. As marcas de cortes no rosto e nos braços do pai indicavam que ela realmente o havia ferido, mas talvez não tivesse consumado o crime, pensou. Talvez tenha sofrido alguma espécie de alucinação durante o ataque com a serra-elétrica. Talvez Ambrósio tenha conseguido sair da casa, se arrastando. Mesmo assim, quem limpara o chão e os móveis?
Nada disso era tão importante quanto o fato de que seu pai, talvez pelo choque de ter sido vitimado pela própria filha, não conseguia reconhecê-la. "Deve ser algum tipo de defesa emocional." - concluiu.
Muito mais desconfortável com a situação estava Arlindo. Seu plano de explorar a irmã esvaziara-se em parte com a reação do pai ao vê-la. Se Ambrósio não reconhecia Jeitosinha, e havia perdido sua índole opressora, o que a irmã teria a temer?
De fato, a moça não tinha mais nada a perder. Depois da decepção com seu amado Bruno e todas as emoções que tomaram sua vida de assalto, o futuro se configurava diferente. Ela trocou olhares com Arlindo. Sorriu, superiora, e ele entendeu o recado. Jeitosinha estava livre de sua influência maligna mas, curiosamente, não pensava em abandonar o bordel de Madame Mary.
A misteriosa mulher - que ela mal vira e que não poderia reconhecer sob a máscara - de alguma maneira fez com que recuperasse sua auto-estima. Na casa de encontros a aceitavam como ela era. E agora havia ainda Beth Balanço, a linda ruiva que havia lhe despertado estranhas emoções. Ela vinha, aliás, fazendo um esforço sobre-humano para esquecer Bruno e tentava se apegar à emoção daquela tarde de prazer como se residisse ali a sua salvação.
Se Jeitosinha agora via o bordel como uma benção, isso não significava que ela perdoava Arlindo. Ao contrário, havia planejado para o irmão a mais terrível das vinganças.
Quanto aos pais, o próprio destino havia se encarregado da punição. Ambrósio era agora um ser desprezível, débil e deformado. E sua mãe, que presa às suas convenções sociais jamais encararia a separação, estava condenada a aturar aquele ser repugnante pelo resto da vida.
Jeitosinha estava imersa em sua reflexão quando alguém bateu à porta. Arlindo foi atender e deparou-se com uma morena exuberante, de mais ou menos trinta anos. Ela tinha cabelos negros e lisos, à altura dos ombros. Os olhos de um azul cristalino contrastavam com a pele clara. Mostrando um distintivo ela se apresentou:
- Sou a detetive Vanessa Valente, Polícia Civil. Vim investigar o desaparecimento do Sr. Ambrósio.
Todos na casa, inclusive o próprio Ambrósio, trocaram olhares surpresos.

Do outro lado da cidade, o angustiado Bruno toma sua decisão. Virando a arma em direção à própria cabeça, finalmente aperta o gatilho.

Ele morreu? Ele morreu?

domingo, 29 de março de 2009

Capítulo XXII - A Volta de Ambrósio


Marilena acordou em sua cama, e sua primeira visão foi Aníbal, um dos filhos menos importantes, daqueles que só fazem figuração na trama, sentado ao deu lado.
- Aníbal... que sonho horrível... pensei que seu pai...
- Não foi um sonho, mamãe. Ele voltou!
A mulher gritou em total desespero:
- Não pode ser! Não pode ser!
O filho estranhou a reação. Alheio aos problemas que infernizavam a vida de Marilena, Adenair e Jeitosinha, sem saber que Ambrósio era a causa de muito sofrimento, esperava da mãe uma manifestação de alegria.
- Mãe? Você não entende? O papai voltou! Meio caidaço, é verdade, mas está vivo! Você deveria estar feliz!
A mulher esboçou um sorriso forçado:
- Sim, meu amor, claro. Foi só o susto. Claro que estou feliz.
Neste instante, já de banho tomado e vestindo um velho e confortável pijama, Ambrósio entra no quarto.
- Marilena...
- É você mesmo, Ambrósio? - perguntou a mulher.
- Estou tão deformado assim? Claro que sou eu!
Ambrósio não tinha na voz a rispidez habitual. Parecia fragilizado. Sua fala era pastosa. Um canto da boca não se mexia e um fio permanente de baba escorria rumo ao pescoço.
- O que aconteceu com você?
- Não me lembro. Não consigo me lembrar de muita coisa. Vaguei pelas redondezas e aos poucos as memórias foram voltando. Nossa casa, você, nossos filhos...
- E sobre o acidente que o mutilou?
- Nada. Não me lembro de nada. Só vejo uma cena estranha, assustadora e irreal. Não quero falar sobre isso.
Os olhos do homem transmitiam o pavor que lhe causava a simples menção da cena. E a imagem que vinha à sua cabeça era a de um travesti, loiro e nu, empunhando uma serra elétrica.

No hospital público, Adenair acordava da anestesia.
- C-como foi a cirurgia, doutor? - perguntou ao homem de branco parado ao seu lado.
- Foi bem. Não consegui fazer um acabamento muito bom. Sabe como é, cirurgia plástica é uma coisa complicada... Mas eu mesmo já vi muita vagina mais feia por aí, hehehe...- o médico amigo de Dona Nair insistia em seu humor infame.
- Meu pênis, doutor, o que vocês fizeram com ele? Mesmo detestando o que ele considerava um corpo estranho, Adenair sabia que era um pedaço seu que havia sido extirpado. E lhe assustava a idéia de que ele pudesse ter ido parar num cesto de lixo hospitalar.
- Fizemos um transplante. Ele agora pertence a um sujeito que teve o seu cortado pela esposa ciumenta.
- Ah! - animou-se Adenair. - Quando recebo alta?
- Amanhã, se tudo correr bem.
"Vai dar tudo certo" - pensou o jovem, ou melhor, a jovem. "Vou virar uma linda mulher, como Jeitosinha, e conquistar o coração de Bruno!"

Em seu apartamento, Bruno ainda olhava fixamente a arma. Sentia-se ultrajado, perdido, confuso e traído. Mas não conseguia evitar que a imagem de sua loira amada lhe viesse à cabeça. "Onde ela estará agora?" - perguntava-se.
Mal sabia ele que Jeitosinha, naquele momento, abria a porta de entrada de sua casa para estar frente a frente com o pai que matara.

Qual será a reação de Ambrósio?

sábado, 28 de março de 2009

Capítulo XXI - O Bilhete de Adenair


O sol despencou no horizonte, tingindo o céu de vermelho. A silhueta perfeita de Jeitosinha, seus longos cabelos loiros, seios voluptuosos, coxas grossas e bunda empinada, recortados pelo céu do entardecer, eram uma visão idílica. A moça coçou o saco e cuspiu no chão.
- Porra, mais essa agora. Achei muito bom ser homem... - resmungou, no jardim florido da casa de Madame Mary, ainda sentindo na boca o gosto de sexo.
Da janela, a ruiva que havia sido possuída por Jeitosinha, cujo nome de guerra era Beth Balanço, suspirava diante da visão do mais radiante e sensual ser humano que já havia conhecido. E olha que ela já tinha transado com metade da torcida do Corinthians.

Em seu apartamento, do outro lado da cidade, o angustiado Bruno olhava fixamente o revólver que empunhava. Acabar com a própria vida parecia ser a solução mais plausível para conseguir um pouco de conforto.

Na casa de Jeitosinha, um fio de lágrima escorria pelo rosto de Marilena enquanto ela lia o bilhete deixado por seu filho, Adenair:
"Querida mamãe, sem a presença opressora de papai, não vejo mais razão para negar minha própria natureza. A verdade é que, embora na teoria tenha dado à luz sete varões, na prática a senhora tem duas filhas. Me sinto tão mulher quanto Jeitosinha. Não tive, como ela, o privilégio de desfrutar da condição feminina, mesmo que por alguns anos de ilusão. Mas estou disposta a recuperar o tempo perdido. Amanhã terei extirpado de mim, definitivamente, a minha masculinidade. Quero ser uma mulher total. Então vou poder conquistar o coração do meu amado. Beijos, Adenaíra."
As pernas da sofrida mulher não conseguiram sustentar o peso do corpo. Sentada no sofá, amassando a pequena nota entre os dedos, Marilena pensava em como sua vida havia se transformado em questão de dias.
- Meu Deus! O que poderia ser pior? - perguntava-se, em voz alta.
Neste momento um homem sujo e deformado, metido em roupas fétidas, mancando e babando, abre abruptamente a porta.
- Querida, cheguei!
Ambrósio está de volta!

Como diz o ditado: "Não importa o quanto as coisas estejam ruins, elas sempre podem piorar."

sexta-feira, 27 de março de 2009

Capítulo XX - Novas Descobertas


A casa de Jeitosinha era um cenário de tempos estranhos. O desaparecimento do pai parecia preocupar sua mãe e irmãos, mas a loira quase perfeita tinha outras atribulações. Quem havia escondido o corpo de Ambrósio e apagado as pistas do assassinato? Quem havia telefonado a Marilena fazendo-se passar pelo morto? Jeitosinha não havia se esquecido de sua vingança. Aliás, também incluíra Arlindo na lista de desafetos. Mas o desfecho insólito de seu primeiro crime causava-lhe certa inibição. Era preciso esperar o momento certo. A prioridade era entender tudo aquilo. E, como se não bastassem tantas reviravoltas do destino, havia a decepção com Bruno, a descoberta da própria sexualidade e os encantos misteriosos da casa de Madame Mary.
Enquanto Adenair procurava, no maior hospital público da cidade, o médico indicado por dona Nair, Jeitosinha voltava ao bordel para uma reunião com a nova patroa. Madame Mary fez uma longa explanação sobre a arte do prazer, uma espécie de preparação teórica para o que viria depois. A expectativa de colocar em prática aquela técnica apurada excitava Jeitosinha. Ao término do encontro, encaminhava-se para a porta de saída quando sentiu dedos suaves tocando seu ombro.
- Oi. Você é nova por aqui? - perguntou uma linda ruiva de sorriso sedutor.
- Sim. - respondeu timidamente. - Mas ainda não estou trabalhando.
- Ah! É a nova pupila de Madame Mary. Está gostando da preparação?
- Bem, - disse Jeitosinha - é tudo muito excitante, mas não vejo a hora de entrar em ação.
A ruiva apertou suavemente a cintura da loira e, olhando no fundo dos olhos de Jeitosinha, propôs:
- Talvez possamos começar agora...
A resposta teve uma ponta de ironia:
- Cuidado, querida. Você pode se surpreender com o que vai encontrar.
- Adoro surpresas! - emendou a ruiva, já puxando Jeitosinha pela mão até um quarto próximo.

A poucos quilômetros dali, um médico de barba por fazer e jaleco puído conversava com Adenair.
- Bom, você sabe que tem uma fila e o que o SUS nos paga para este tipo de operação... fica difícil... o que a gente pode fazer é inventar uns códigos, mandar umas cobranças a mais...
- Eu nem sei como lhe agradecer...
- Tudo bem... Dona Nair me ensinou tudo o que sei de Obstetrícia. Sou muito grato à ela. Ah, ia me esquecendo... o anestesista tem que pagar à parte. - disse o doutor para a bichinha plena de felicidade.
A operação de mudança de sexo foi marcada para o dia seguinte e Adenair saiu em passos lépidos e faceiros.

No bordel, Jeitosinha vivia mais uma forte emoção: sua primeira vez com uma mulher. E deliciava-se com a descoberta das inúmeras possibilidades de interação entre o côncavo e o convexo...

Quantas novidades ainda virão à tona?

the brazilian way of life

É um e-mail do Jabor sobre nós e o nosso modo de encarar as coisas.


Brasileiro é um povo solidário!
Mentira. Brasileiro é otário.


Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida;
Pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para a pobreza;
Aceitar que ONG's de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade;
Não protestar cada vez que o governo compra colchões para presidiários que queimaram os deles de propósito, não é coisa de gente solidária.
É coisa de gente otária.


Brasileiro é um povo alegre.
Mentira. Brasileiro é idiota.

Fazer piadinha com as imundices que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada.
Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai.
Quando surge um escândalo, ao invés de protestar e tomar providências como cidadão, ri como idiota.


Brasileiro é um povo trabalhador.
Mentira. Brasileiro é vagabundo por excelência.

O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade, são oriundos do povo.
O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber R$20 mil por mês para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe, lá no fundo, que se estivesse no lugar dele faria o mesmo.
Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de R$90 mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida - realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa-família - não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.


Brasileiro é um povo honesto.
Mentira. Já foi.

Se você oferecer €50 a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso. Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe que é errado aceitar propinas.
O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.


Quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora.
Mentira. Já foi.

Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas quando os negros e mulatos, retornando da Guerra do Paraguai, ali se instalaram. Naquela época quem morava lá era gente honesta, que não tinha outra alternativa e não concordava com o crime. Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como "aviãozinho" do tráfico para ganhar uma grana legal.
Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas.
Além disso, cooperariam com a polícia na identificação de criminosos, inibindo-os de lá montar suas bases de operação.


O Brasil é um pais democrático.
Mentira. Nunca foi.

A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros, foi executado friamente. Num país onde todos têm direitos mas ninguém tem obrigações, não existe democracia e sim, anarquia. Num país em que a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita.
Se tirarmos o pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques, condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores), todos sustentados pelo povo que paga tributos que têm como único fim a manutenção dos privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar.
Democracia é isso? Pense!


Brasileiro é esperto.
O famoso jeitinho brasileiro.

Na minha opinião, um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política brasileira. Brasileiro se acha malandro, muito esperto. Faz um "gato" puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar. No outro dia o caixa da padaria erra no troco e devolve 6 reais a mais! Caramba! Silenciosamente, ele sai de lá com a felicidade de ter ganhado na loto. Malandrões, esquecem que pagam a maior taxa de juros do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação, mas e daí?
Afinal somos penta campeões do mundo, né???


O Brasil é o país do futuro.

Meu avô dizia isso em 1950. Muitas vezes cheguei a imaginar em como seria a indignação e revolta dos meus avós se ainda estivessem vivos. Dessa vergonha eles se safaram.
Brasil, o país do futuro!? Hoje o futuro chegou e tivemos uma das piores taxas de crescimento do mundo.


Deus é brasileiro.

Puxa, essa eu não vou nem comentar...


O que me deixa mais inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da vitória do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira.
Para finalizar tiro minha conclusão: o brasileiro merece!
Como diz o ditado popular, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar.
Se você não é como o exemplo de brasileiro aqui citado, meus sentimentos, amigo. Continue fazendo sua parte, e que um dia pessoas de bem assumam o controle do país novamente.
Aí sim, teremos todas as chances de ser a maior potência do planeta.
Afinal, aqui não tem terremoto, tsunami nem furacão. Temos petróleo, álcool, bio-diesel, e sem dúvida o mais importante: água doce!

Só falta boa vontade.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Capítulo XIX - O Amor Platônico


- Bruno, eu sempre te amei!
A declaração de Adenair, um desabafo cuspido pelo seu coração angustiado, deixou o sofrido namorado de Jeitosinha perplexo.
- Não, Adenair! Não é possível! Você é...
Como completar a frase? O que era Adenair? O que era Jeitosinha? O que era ele? Quantas certezas jogadas fora! Quanta boiolice repentina, transformando sua vida num filme de Almodóvar!
- Durante muito tempo sofri em silêncio. Achei que nunca teria coragem de me expor. Mas desde que soube da condição de Jeitosinha, e percebendo que você ainda gosta dela, vi que por mais difícil que seja meu sonho não é impossível. Me dê uma chance! Você vai me amar também!
- Você não entende, Adenair. Jeitosinha é diferente! É uma mulher quase completa!
- Não tente se enganar, Bruno.- respondeu. - Será que no fundo do seu coração você não tinha a percepção de quem ela realmente era? Você pode afirmar, com certeza, que é heterossexual?
Ainda traumatizado pela experiência recente, Bruno percebeu que talvez Adenair tivesse razão. Mas ele não se sentia apto a penetrar o lodo de suas emoções. Reagiu, convicto, rejeitando a hipótese de que fosse gay.
- Sim, Adenair. Eu sou heterossexual. Aliás, estou farto de tanta farsa e dissimulação. Quero encontrar uma mulher de verdade, que não me surpreenda com nenhuma protuberância anti-natural! - disse, afastando-se a passos rápidos.
Um Adenair magoado e arrependido ficou para trás. Sabia que desejava muito aquele homem. Sentia-se mal pelas palavras que disse e estava disposto a qualquer sacrifício para tê-lo ao seu lado.
- Você quer uma mulher de verdade, Bruno? - murmurou para si mesmo. - Pois eu serei uma! A mais bela, completa e exuberante que você já viu!
Adenair dormiu pouco aquela noite. Na manhã seguinte, procurou a velha dona Nair, parteira e amiga da família. Sem constrangimento, o rapaz contou à mulher o seu drama e lhe fez um pedido inusitado:
- Preciso mudar de sexo! Preciso me tornar uma mulher! Mas não tenho dinheiro, dona Nair! Por favor, me ajude!
A velha coçou sua cabeça grisalha.
- Sei lá, fio... Não sei como posso ajudar.
Adenair cobriu o rosto e chorou copiosamente.
- Porque não tenta pelo SUS? Eu conheço um médico.
Os olhos do rapaz subitamente brilharam de esperança:
- Me leve até ele! Me leve até ele!

Terá Jeitosinha uma irmã de verdade?

terça-feira, 24 de março de 2009

Capítulo XVIII - O Retorno de Ambrósio


Ambrósio não conseguia se lembrar exatamente de quem era. Imagens confusas de um travesti loiro com uma moto-serra lhe vinham à mente, enquanto ele reconhecia alguns trechos do caminho. Acabou chegando até à porta de sua casa, mas não teve coragem de entrar, especialmente porque não tinha a menor idéia de que lugar era aquele de fato. Viu que dois homens jovens conversavam sentados num banco da varanda.
O dia estava quase nascendo. Do outro lado da rua, Ambrósio reconheceu algo de familiar naqueles rostos. Mas quem seriam? Aliás, quem seria ele mesmo? O homem subitamente percebeu que sequer podia se lembrar de suas próprias feições. Procurou algum vidro ou espelho onde pudesse se ver refletido. Numa grande e quieta poça d'água, viu seu rosto monstruoso. Com um grito aterrador correu rumo a um matagal próximo. Estava confuso e com medo.
Bruno e Adenair ouviram o grito, mas não deram muita importância.
- Você pode se abrir comigo, Bruno. Sei tudo a respeito de Jeitosinha.
- Tudo? - surpreendeu-se.
- Sim. Ela é uma vítima, tanto quanto você.
Pelo comentário, Bruno percebeu que talvez Adenair não soubesse que a irmã era uma prostituta. "Se ela conseguiu me enganar, porque não enganaria o irmão?" - perguntou-se.
Tombando diante da pressão, Bruno chorou convulsivamente. Adenair puxou-o em direção ao peito, abraçando-o e acariciando seus cabelos. Bruno pôde perceber que o toque e o suave perfume do rapaz lembravam muito os de sua irmã. Sentiu-se confortável por alguns minutos.
Enxugando as lágrimas, Bruno viu bem de perto os olhos de Adenair, tão parecidos com os de Jeitosinha. Só então deu-se conta de que algo estranho acontecia ali. O apoio que estava recebendo, físico e mudo, não é comum entre dois homens.
- Adenair, porque você me abraçou deste jeito? - perguntou, temendo a resposta.
Em um matagal a poucos metros, Ambrósio começava a se dar conta de quem era. Talvez por um bloqueio, causado pela morte violenta ou pelo processo utilizado para trazê-lo de volta à vida, não associava o travesti loiro à sua amada Jeitosinha.
Mas já sabia que ele era o chefe daquela casa que reconhecera e que estava deformado por alguma terrível razão, a mesma pela qual sentia-se impelido a manter-se escondido.
Na varanda da casa, Adenair começava sua revelação. Cada palavra que pronunciava causava-lhe dor.
- Bem, Bruno, também tenho um segredo.

Que segredo revelará Adenair a Bruno?

segunda-feira, 23 de março de 2009

Capítulo XVII - A Despedida Anunciada


Condenados a sair da história pelas mesmas razões estapafúrdias que entraram, os alienígenas finalmente se preparam para voltar ao seu planeta ameaçado.
- O que você andou fazendo a tarde inteira? - perguntou um dos membros da equipe ao chefe da expedição, um cientista brilhante em seu mundo.
- Nada demais. Encontrei os restos de um humano esquartejado e, só para me distrair, o trouxe de volta à vida. - disse, apontando uma figura no canto do laboratório. Toda a tecnologia dos homenzinhos verdes não foi suficiente para impedir que, visualmente, o resultado ficasse sofrível. Mas era possível reconhecer, naquele homem deformado repleto de cicatrizes, as feições de Ambrósio.
- Ele recuperou a memória e a razão?
- Está um pouco confuso ainda. - disse o cientista. - Talvez nunca volte a ser o que era antes, mas foi divertido brincar de Deus e inverter a ordem natural das coisas, antes de deixar definitivamente este mundinho atrasado. Sabe-se lá o que este monstro fará na sua volta à vida.
A nave deixa o homem à beira da estrada deserta e levanta voo rumo ao infinito.

Não muito longe dali um cabisbaixo Bruno faz seu caminho de volta para casa, ainda entorpecido pela descoberta de que sua doce Jeitosinha era uma garota de programa.
Como se não bastasse, sentia a confusão mental causada pela percepção de que sua experiência com o travesti no bordel fora totalmente inconclusiva. Até o momento em que Jeitosinha interrompeu o ato sexual, ainda não havia encontrado o prazer. Mas era difícil saber como a coisa iria terminar.
Bruno não tinha pressa para chegar a lugar algum. Precisava pensar e, talvez involuntariamente, acabou passando em frente à casa de Jeitosinha. Sentiu um nó no coração ao ver a janela do quarto da moça. Saudades de um passado perfeito e uma profunda revolta por sentir que um futuro feliz havia sido abortado.
- Bruno?
Por um momento pensou ser Jeitosinha, mas a voz que vinha da varanda escura da casa era mais grave.
- Adenair?
- Sim. - disse o suave irmão da loira, aproximando-se. - Você não parece bem. Quer conversar?
Bruno encarou Adenair. Ele nunca havia percebido o quanto o rapaz se parecia com Jeitosinha!
- Não creio que você possa me ajudar.
- Talvez eu possa. - respondeu o moço, com a voz trêmula de emoção e desejo.

Conseguirá Adenair consolar o pobre Bruno?

domingo, 22 de março de 2009

Capítulo XVI - A Surpresa


Na chegada ao bordel, uma mansão estilo
art nouveau finamente decorada com móveis e objetos da Belle Époque, Jeitosinha foi conduzida à presença de Madame Mary, a cafetina, uma mulher envolta em mistério, que nunca mostrara o rosto, sempre coberto por uma máscara de renda de seda. Caminhando lentamente pelo longo corredor de paredes revestidas em veludo vermelho, Jeitosinha podia ouvir ruídos de prazer que emanavam dos quartos. Algumas portas entreabertas, talvez propositadamente por capricho exibicionista de algum cliente, tornavam aquela atmosfera excitante.
Bruno havia bebido a tarde inteira, buscando no álcool a coragem necessária para por à prova sua masculinidade. Por esta razão, a imagem de Jeitosinha à porta do quarto, observando-o em pleno ato de amor com um travesti, pareceu-lhe uma alucinação.
- Amor... Não é nada disso que você está pensando! - disse o rapaz, sem muita inspiração.
Recuperando a sobriedade, foi tomado por um tipo diferente de perplexidade.
- Mas... espera aí... o que você está fazendo aqui? - perguntou Bruno à sua amada, enquanto a prostituta, prevendo o quiproquó, saia de fininho.
Cheia de revolta, Jeitosinha disse a primeira coisa que lhe ocorreu para ferir Bruno:
- O que lhe parece? Pelo visto você prefere as morenas! Mas nós, loiras, somos muito melhores na arte de enlouquecer os homens.
- Não! Não pode ser, meu amor! Diga que é um sonho! Me belisca para eu sentir dor e acordar!
- Depois do que eu vi pela fresta da porta, tem certeza de que não tem nada doendo aí? - alfinetou jeitosinha, cheia de ironia.
- Não! Você não! Não pode ser! Não pode ser! - Bruno puxava os próprios cabelos com violência e rolava pelo chão num desespero patético.
Jeitosinha apenas jogou os cabelos longos para o lado, naquele gesto superior com que as loiras costumam descartar os simples mortais e retirou-se do ambiente.
Seu coração por dentro estava em frangalhos, mas o que Bruno viu foi a imagem de uma mulher fria.
Com passos precisos e a elegância de uma modelo, Jeitosinha atravessou o corredor em direção ao gabinete de Madame Mary. Lá dentro, tombou de joelhos e começou a chorar.
- O que é isso minha querida? - disse a cafetina com ar protetor.
- Não pode ser, Madame! Meu amado Bruno! Um homem tão puro e íntegro! Aqui! Com aquela... aquela...
A certeza de que não era tão diferente da exótica morena impedia Jeitosinha de achar a palavra certa.
- Os homens são todos iguais, minha criança - disse Mary, acariciando a loira. - São animais capazes de qualquer coisa por um momento de luxúria. Eles nunca saberão o que é o amor verdadeiro. É justamente isso que torna tão fascinante a nossa arte da sedução.
Jeitosinha levantou os olhos e, agarrando-se às pernas da misteriosa mulher, implorou:
- Ajude-me, Madame! Ajude-me a ser como você!
- Claro, querida. Claro.
Madame Mary sabia que tinha nas mãos um diamante em estado bruto, pronto para ser lapidado na dor de um coração partido.

Será o começo de uma nova vida para Jeitosinha?

sábado, 21 de março de 2009

Capítulo XV - A Angústia de Bruno


O júbilo de Jeitosinha durou pouco. Se num primeiro momento a idéia de ter salvo a humanidade era alentadora, horas depois o que a fantástica experiência lhe causara era revolta e dor. De que adiantava ter salvo o mundo, se não obteria pelo seu ato qualquer tipo de reconhecimento? Para o restante da humanidade, ela continuava sendo aquele ser anacrônico e discriminado por fugir dos padrões estabelecidos. Só uma pessoa na cidade estava se sentindo mais angustiado: Bruno.
Num bairro distante, trancado em seu apartamento, o pobre rapaz refletia sobre a grande - e como era grande! - emoção que sentiu na sua primeira noite de amor com Jeitosinha.
"Será que eu gostei porque era a minha amada?" - perguntava-se. "Ou será que tamanho prazer adveio do fato de que se tratava de um homem? Serei gay? Serei hétero?".
- QUEM É VOCÊ? - gritou Bruno, angustiado, olhando sua imagem no espelho.
Sentia-se sujo. Seus desejos o incomodavam, como se tivesse experimentado a fruta do pecado. Mas sabia que Jeitosinha era uma vítima, como ele. Entendia que a namorada era um modelo de virtude e pureza e que seu gesto, ao seduzi-lo, era apenas uma grande demonstração de amor. Por um momento, olhou para o problema sob outra perspectiva muito menos dramática.
"Sim, Jeitosinha é pura. É a minha Jeitosinha. E em nome desta pureza vale a pena continuar com ela!" - concluiu. "Se ela fosse um travesti vulgar... mas não! Ela foi criada como uma moça de família, sob rígidos padrões morais! Quem sabe ainda podemos ter uma vida juntos, mantendo sua condição em segredo?" - pensava.
Num fragmento de sonho, Bruno viu-se casado com ela, vivendo grandes noites de amor e criando crianças adotadas como se fossem seus filhos biológicos, os sonhados Cléverson e Suélen. Pensou em procurar a sua doce amada naquele mesmo momento e propor a realização do casamento, outrora tão desejado em tempos menos complicados.
Antes, porém, precisava enfrentar seu próprio demônio interior. Precisava saber o que sentiu naquela noite mágica: Amor? Volúpia? Precisava, enfim, fazer amor com outro travesti e colocar-se à prova.
Bruno resolveu que iria a um bordel atrás de respostas. Iria buscar reviver, com uma vulgar criatura da noite, emoções tão, digamos, grandes quanto as que viveu com sua inocente Jeitosinha.
Mal poderia imaginar a grande surpresa que o esperava.

Conseguirá Bruno sanar sua grande dúvida?

sexta-feira, 20 de março de 2009

Capítulo XIV - A Experiência


Lentamente Jeitosinha foi recuperando a consciência. Nos primeiros minutos, aquele cenário de ficção científica parecia apenas um sonho estranho. Mas à medida que as imagens ganhavam formas e cores, e que aflorou em sua mente a lembrança dos últimos momentos no carro, um pânico indescritível tomou conta da nossa heroína. Seu grito agudo acordou Arlindo que, como ela, encontrava-se atado a uma chapa metálica, quase verticalmente.
A sala estava deserta mas, minutos depois, duas criaturas entraram no ambiente. Mesmo sendo de uma espécie muito diferente, Jeitosinha sentiu que aqueles seres estavam muito tristes. Seus enormes olhos revelavam esta condição. Usando um estranho aparelho, que acoplado à sua boca funcionava como um tradutor, a criatura que parecia liderar as demais dirigiu-se ao casal:
- Creio que lhes devemos explicações.
Jeitosinha e Arlindo estavam paralisados pelo medo. O ser continuou:
- Meu planeta está passando por uma crise terrível. Construímos uma civilização poderosa e avançadíssima. Controlamos toda a nossa galáxia, mas estamos condenados à extinção.
Os rostos curiosos dos irmãos não moviam um só músculo, enquanto o alienígena narrava sua história.
Ele explicou que, por um capricho da biologia que a ciência não conseguiu contornar, estava nascendo em seu planeta um número infinitamente inferior de mulheres em comparação com o número de homens. Pelos cálculos dos cientistas, em não mais que quinhentos anos seu povo terá desaparecido, a não ser que se encontre uma alternativa para reverter o quadro.
- Numa análise superficial - continuou a criatura - percebemos que talvez fosse possível utilizar as terráqueas para gerar nossos filhos. Se a idéia se confirmasse, nossa intenção era a de exterminar todos os homens e levar conosco as mulheres. Minha missão veio à Terra com o propósito específico de analisar a anatomia feminina e autorizar a operação.
O homem verde deixou-se desabar numa cadeira, vencido pelo desânimo.
- Mantivemos você sedada por seis horas - disse, dirigindo-se a Jeitosinha. - E descobrimos, depois de estudá-la, que a máquina humana é muito mais complexa do que esperávamos. Vocês, mulheres terráqueas, são bastante parecidas com os homens.
Jeitosinha esforçou-se para não demonstrar sua enorme alegria ao ser confundida com uma mulher. Sem querer ela havia salvo a raça humana da destruição total.
- Vamos libertá-los e partir atrás de outros mundos. - concluiu.
Já de volta ao carro, ainda atônita por aquele turbilhão de emoções, Jeitosinha abraçou seu irmão e inimigo:
- Você entende, Arlindo? Minha vida tem um sentido! O que são nossas rusgas do dia-a-dia diante desta experiência tão avassaladora?
Arlindo afastou Jeitosinha e esboçou um sorriso pálido.
- É, irmã. Foi interessante. O dia está nascendo e devemos voltar para casa. Mas, como a vida continua, amanhã você estréia no bordel.

N.A.: Eu sei que foi bem estúpido incluir ET's nessa trama, mas eles tiveram (e terão) um propósito fundamental no desenrolar da história. Logo logo eles se vão, não antes de terminar aquilo que começaram.


Como será a estréia de Jeitosinha?

quinta-feira, 19 de março de 2009

Capítulo XIII - A Reviravolta


A família finalmente percebeu que Ambrósio estava desaparecido. Ele não havia voltado da pescaria nem dado sinal de vida. Marilena chamou a Polícia, que pareceu não dar muita importância à ocorrência. Os dois policiais fizeram poucas perguntas, anotaram um boletim de ocorrência de forma burocrática e se foram em poucos minutos, levando uma foto do homem.
Jeitosinha chegou em casa quase na hora do almoço. Os irmãos não perceberam que ela passara a noite fora, mas sua mãe sim.
- Onde você estava? - perguntou Marilena. Jeitosinha ignorou a abordagem.
- Sorte sua seu pai não estar por aqui. Ele não ia gostar disso. - insistiu Marilena, com um tom seco de reprovação na voz.
A resposta da filha foi carregada de ironia:
- O que poderia preocupá-lo, mamãe? O risco de que eu perca a virgindade ou volte grávida para casa?
Marilena tentou acariciar o cabelo da filha, que afastou sua mão com um gesto brusco.
- Não me encoste! Eu odeio você! - um fio de lágrima escorreu pela face esquerda da sofrida mãe.
- Querida, você é tão jovem, tem uma vida pela frente! Ainda há tempo de encontrar a felicidade.
- Como eu poderia ser feliz? Eu sou uma mulher aprisionada no corpo de um homem!
- Veja o lado positivo.- tentou consertar Marilena. - Você não tem tensão pré-menstrual, não precisa sentar-se em privadas sujas de boate.
"Mantenha a calma e a resignação. Você ainda encontrará um homem que a aceite como você é!" - conjecturou Jeitosinha. "Este homem talvez seja Bruno. Mas como ele estará se sentindo depois da nossa estranha noite de amor?"
Ela pensou durante todo o dia no seu amado, reunindo forças para enfrentar sua primeira noite no bordel. Curiosamente, a expectativa de entregar-se a estranhos não a incomodava.
Desde a revelação de sua condição, ela não se reconhecia naquele corpo. Não sentia que tivesse que zelar dele.
Era nove da noite quando Jeitosinha entrou no carro de Arlindo, rumo à casa de encontros. O local ficava próximo, mas era preciso percorrer um pequeno trecho em uma estrada pouco movimentada. Justamente quando passavam pela parte mais escura e deserta do percurso, uma luz surgida do nada cegou momentaneamente Arlindo, impedindo-o de dirigir. O rapaz pisou no freio abruptamente. Antes que pudessem esboçar qualquer reação, as duas portas do carro foram abertas, e o casal foi retirado de dentro do veículo por mãos poderosas.
Pouco antes de tomar uma descarga elétrica que a faria perder os sentidos, Jeitosinha pôde ver a silhueta de seus raptores: eram homens de baixa estatura, vestindo estranhos macacões prateados.

Tornar-se-á nossa história um seriado de ficção científica?

about the author

Muitos têm me perguntado se sou eu o autor dessa trama trash. Devo dizer que não. Apesar de ter feito alguns ajustes, principalmente de ortografia e gramática, e incluído alguns pequenos textos na narrativa, darei crédito a quem de fato idealizou Jeitosinha:
Maurício Ricardo é cartunista, músico, escritor, roteirista e criador de um dos sites mais populares do país, o www.charges.com.br .

quarta-feira, 18 de março de 2009

Capítulo XII - As Pretensões de Arlindo


Jeitosinha não acreditava no que acabara de ouvir. Desde a revelação do seu trágico segredo, sentia-se num pesadelo sem fim. Não bastasse todo o ódio em seu coração, o estranho desfecho da morte do pai e a perda de Bruno, seu amado, agora nossa heroína era chantageada pelo irmão cruel.
- Você quer que eu me prostitua?
- Sim. - concordou o irmão, secamente, com a voz desprovida de emoção. - Existe um bordel de luxo aqui perto. Pessoas exóticas como você podem ter um bom valor no mercado.
- M-mas... eu sou virgem! Sou inocente! - retrucou Jeitosinha, aos prantos.
- Então você tem até amanhã para aprender o que precisa.
Arlindo deixou o quarto da loira batendo a porta. Adenair entrou em seguida, curioso para saber o que acontecera. Jeitosinha contou resumidamente a história.
- Não pode ser! Você precisa matá-lo também! - reagiu o enrustido, batendo o pezinho nervosamente.
- Sim, mas não poderei fazê-lo agora. Não com o estranho desaparecimento do corpo de papai. Precisamos desvendar primeiro este mistério. - disse Jeitosinha, recompondo-se.
- Então você...
- Não resta outra alternativa, Adenair. Terei que me submeter aos caprichos de Arlindo. E, pode ter certeza, amanhã estarei mais pronta do que ele pensa!
Naquela noite, pela primeira vez desde o rompimento, Jeitosinha voltou ao apartamento de Bruno. Encontrou-o em estado de total desespero, ébrio, sorvendo doses e mais doses de uísque barato.
- Você destruiu a minha vida! - lamentou o jovem.
A loira, usando um vestidinho curto, sentou-se no seu colo. Numa explosão de luxúria, enfiou a língua na boca de Bruno antes que ele pudesse esboçar qualquer reação. Num primeiro momento, ele retribuiu ao carinho, mas logo lembrou-se de que estava beijando um homem. Rejeição e desejo se sucediam em ondas na mente do rapaz. Mas ele havia bebido bastante e amava Jeitosinha.
No dia seguinte, consumada uma louca e apaixonada noite de amor, a loira acordou e viu Bruno, em pé, contemplando-a . Ela abriu um sorriso, mas não foi retribuída.
- Você é tão bonita... - murmurou o rapaz, em um semblante que sugeria lamento, mais do que elogio.
- O que você achou da nossa noite, meu amor?
- Eu... eu estou confuso... foi tudo muito diferente... me vi fazendo coisas que nunca imaginei ser capaz de fazer.
- Calma amor... - respondeu docemente Jeitosinha. - Sente-se aqui ao meu lado. Vamos conversar melhor sobre isso.
- Bem, - respondeu Bruno, com um sorriso sem graça - podemos até conversar. Mas sentar eu não consigo.

Jeitosinha e Bruno irão se reconciliar?

terça-feira, 17 de março de 2009

Capítulo XI - A Revolta de Arlindo


- Você nunca me enganou, Jeitosinha... - a voz de Arlindo destilava revolta e ódio.
- Vou contar seu segredo ao papai assim que ele voltar da pescaria! Aliás, vou contar ao mundo!
- Contar ao papai? - espantou-se a moça. "Então Arlindo não sabe que papai está morto! Não foi ele quem escondeu o corpo!" - pensou.
Jeitosinha estava tão fragilizada que acabou assumindo sua bizarra condição ao irmão.
- Sim, Arlindo. Sou uma mulher aprisionada no corpo de um homem. Mas sou a maior vítima desta situação. Eu lhe imploro: não revele o meu segredo!
- Não adianta, Jeitosinha. - retrucou o magoado Arlindo - Toda a minha vida brinquei com cavalinhos feitos de palitos de fósforo fincados em batatas, enquanto a princesa tinha os mais caros brinquedos. Toda a minha vida dormi espremido em um beliche, com os pés de Amarildo tocando as minhas narinas, enquanto você tinha o seu quarto e finos lençóis de seda...
Arlindo agarrou Jeitosinha pelos braços e fitou o fundo de seus olhos.
- Mas o que eu nunca vou perdoar mesmo foi aquela surra que levei quando descobri a verdade sobre você. - Arlindo tremia de rancor.
- Mas nem eu mesma sabia! - tentou defender-se Jeitosinha.
- Chega! Chega de suas mentiras!
Arlindo virou-se em direção à porta. A irmã, desesperada, lançou-se ao chão e abraçou seus pés.
- Não, Arlindo! Por favor! Eu faço qualquer coisa!
- Qualquer coisa? - o tom do rapaz agora era mais suave. - Comece mostrando-se para mim. Quero vê-la nua!
Relutante, Jeitosinha livrou-se de suas roupas e revelou seu corpo perfeito de mulher. Bem, quase perfeito.
- Não é justo. - balbuciou Arlindo, apontando o apêndice que fazia de Jeitosinha um quadro surrealista. - Até neste quesito você ganha de mim!
- Por favor, não seja rude comigo...
- O quê? - espantou-se o moço. - Você imaginou que quero tocá-la? É ruim, heim?
- Mas... o que você quer então? - perguntou a moça, voltando a se vestir.
- Você vai me render dinheiro, irmãzinha. Muito dinheiro!

Qual será a pretensão de Arlindo?

segunda-feira, 16 de março de 2009

Capítulo X - O Início do Mistério


Naquela manhã de segunda-feira, a mãe e os sete irmãos sentaram-se juntos para o café da manhã, na longa mesa da copa. Era, tradicionalmente, o momento em que a família colocava seus assuntos em dia. Mas um silêncio incômodo pairava no ar.
Jeitosinha sondou cada rosto, buscando algum sinal que indicasse quem escondeu o corpo de Ambrósio. É claro que o pai não retornara da pescaria na noite anterior. Mas porque ninguém parecia se importar com o fato?
Disfarçando o nervosismo, a moça arriscou perguntar à mãe:
- O papai não voltaria ontem?
- Sim, querida. - respondeu Marilena - Mas ele ligou dizendo que uma ponte caiu e que eles estão isolados na vila onde foram pescar.
- Era a voz dele, mamãe? Tem certeza?
- Que pergunta! Claro, minha filha! A ligação estava ruim, mal escutei o que ele dizia. Mas quem mais poderia ser?
Arlindo, o ciumento irmão mais velho, esboçou um sorriso enigmático, que Jeitosinha rapidamente captou como um indício de culpa. "Sim! Arlindo! Só pode ser ele!" - pensou.
"Arlindo sempre desconfiou de que havia algo de errado comigo. Ele nunca perdoou papai pelo carinho que me dedicava. Ele sabe, por alguma razão, que fui eu quem matei papai e apagou as evidências como parte de um plano de vingança! Mas porque esconder o corpo, ao invés de simplesmente me entregar à Polícia?" - as perguntas atormentavam a mente limitada da nossa loira heroína.
Ela voltou para o quarto, cobriu o rosto com o travesseiro e começou a chorar baixinho. No princípio, chorava por medo. Pela confusão que tomara conta de sua vida. Mas logo sua dor se transfigurou e Jeitosinha passou a verter seu pranto por saudades de Bruno. Lembrava-se das mãos do amado percorrendo seu corpo. Sentiu um calafrio e uma onda de excitação só de imaginar o toque suave de seus dedos.
Neste momento, abruptamente, Arlindo abre a porta. Jeitosinha ainda tem tempo de disfarçar as lágrimas. Mas não a ereção.
- Ahá! Eu sabia! - bradou o irmão, radiante, enquanto uma descarga de adrenalina fazia desaparecer do jeans apertado da moça o volume comprometedor.

Conseguirá Jeitosinha escapar da revolta de Arlindo?

loneliness

Vamos dar uma pausa na novela porque hoje li algo que achei muito apropriado.
Sempre quando via alguém sozinho, num bar ou restaurante, ficava imaginando o quão desagradável e constrangedor devia ser para essa pessoa estar ali, num lugar onde vamos para encontrar amigos, dar risadas, conversar, enfim, nos divertir. "Deve ser alguém anti-social. Solidão é chato." - pensava. Pois bem:

"Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo. - isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar. - isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos. - isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida - isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado. - isto é circunstância.
Solidão é muito mais que isto.
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos, em vão, pela nossa alma."

É do meu tocaio, aquele tal Buarque de Hollanda.

domingo, 15 de março de 2009

Capítulo IX - A Grande Surpresa


Passava da meia-noite quando Jeitosinha voltou para casa. Seu álibi foi perfeito: passou as últimas horas estudando Geografia com uma amiga, como costumava fazer.
Estava impressionada com a própria frieza. Conseguiu concentrar-se nos livros e conversar amenidades como se nada tivesse acontecido. Mas ainda sentia nas mãos o tremor da serra elétrica. Os gritos de Ambrósio continuavam a ecoar em seus ouvidos. Eram sensações surpreendentemente prazerosas.
Arrependimento, de fato, só o de ter perdido o capítulo da novela. "Mamãe eu matarei na hora do Jornal Nacional" - jurou a si mesma.
As luzes da sala estavam acesas. Viu pela janela os vultos de seus familiares. Entrou pela porta principal, preparando-se para fingir dor e desespero ao se deparar com os pedaços de carne, ossos e vísceras de seu pai espalhados pela sala. Qual não foi o seu espanto ao perceber que não havia na casa um só vestígio do seu crime hediondo!
Quatro de seus irmãos, inclusive Adenair, estavam assistindo televisão tranquilamente. Sua mãe já havia se recolhido ao quarto.
- Onde está papai? - perguntou.
- Foi pescar. - respondeu Amarildo, o segundo filho de Ambrósio e Marilena.
- Pescar?
- Sim, deixou um bilhete com mamãe, dizendo que resolveu na última hora e que só volta amanhã à noite.
As belas pernas de Jeitosinha estremeceram e ela sentiu uma estranha vertigem. Realmente seu pai era dado a estes rompantes e o sumiço não chegava a espantar ninguém em sua casa. ''Será que tudo não passou de uma alucinação?'' - questionou-se.
Mas não. Observando o revestimento plástico do sofá onde o crime havia acontecido, percebeu o cheiro de detergente e marcas de pano, que sugeriam uma limpeza recente.
Jeitosinha puxou seu cúmplice, Adenair, até o quarto.
- O que está acontecendo?
- Eu é que te pergunto! - retrucou o irmão. - Você não ia matar papai?
- Matei! Eu matei! Alguém escondeu os restos, limpou a sala e ainda deixou um falso bilhete para mamãe!
Adenair deu um gritinho ansioso e histérico. Jeitosinha esbofeteou-lhe a face e disse, resoluta:
- Calma! Você já esperou mais de 20 anos. Não acho que seja a melhor hora pra soltar a franga.

Qual estranho mistério esconde-se na casa de Jeitosinha?

sábado, 14 de março de 2009

Capítulo VIII - A Sangue Frio


Adenair era estagiário na Secretaria do Meio Ambiente e conseguiu, sem chamar a atenção, retirar uma moto-serra do almoxarifado. Como o dia seguinte seria um domingo, ele teria tempo de limpar a ferramenta e devolvê-la ao seu local de origem antes que dessem por sua falta.
Ao cair da noite, ninguém na família poderia imaginar o drama que se desenrolaria nas próximas horas. Um por um os irmãos mais velhos foram saindo, como fazem os jovens numa noite de sábado. Adenair foi o último a deixar a casa. Controlando as emoções, despediu-se do pai sem despertar suspeitas.
Enfim, a sós, Jeitosinha e Ambrósio assistiam ao telejornal das oito. Ela usava um vestidinho curto. Balançava de maneira provocante as pernas, mostrando toda a extensão de suas coxas bem torneadas. A loira sabia que o pai moralista logo iria implicar com sua roupa.
- Precisa usar um vestido tão curto? Vá já se vestir direito! - ordenou Ambrósio, apontando para o quarto da moça.
Era o que ela esperava. Entrou no seu quarto e reapareceu poucos minutos depois, causando a última e pior visão que aquele homem rude jamais tivera. Sua filha, seu meigo tesouro, estava completamente nua, portando a serra elétrica nas mãos. Mas o maior espanto de Ambrósio foi constatar a existência de uma outra ferramenta, pendurada entre as pernas da bela loira.
- Não, não pode ser! Não pode ser! O que é isto? - balbuciou o homem, com uma expressão patética.
- Isto sou eu, papai! O monstro que você criou!
O som ensurdecedor da serra abafou os gritos desesperados do homem, que, de tão surpreso, sequer teve forças para lutar.
Minutos depois, tudo era calma e silêncio. Jeitosinha tomou um banho demorado, vestiu-se, escondeu a serra elétrica num terreno baldio próximo, seguindo o plano previamente combinado com o irmão e dirigiu-se tranquilamente à casa de uma amiga, deixando montado na sala de sua casa o cenário dantesco.
Estava encerrada a primeira etapa da sua vingança.
Ou pelo menos Jeitosinha assim imaginava...

Terá nossa jovem heroína alguma grande surpresa?

sexta-feira, 13 de março de 2009

Capítulo VII - A Vingança


Não foi difícil para Jeitosinha convencer Adenair a juntar-se a ela no seu plano de vingança. Ele sabia que o pai, violento e castrador, jamais o deixaria sair do armário. Com Ambrósio morto, um novo horizonte, muito mais colorido, se desenhava à sua frente.
- Ai, Jeitosinha, já pensou? Vou poder comprar um Ka dourado, colocar piercings nos mamilos, fazer backing vocals no show do Edson Cordeiro!
Adenair só não estava muito certo sobre a morte da mãe. Marilena sempre fora uma mulher zelosa com seus filhos, e muito carinhosa com todos os sete.
- Você acha que o erro de mamãe foi assim tão grave? -perguntou.
- Se eu acho? - indignou-se Jeitosinha.
- Minha vida foi uma farsa!
- Mas sempre é tempo de recomeçar! Você pode fazer uma operação de mudança de sexo.
- Não é tão simples, Adenair. Eu gosto de mim como sou! O problema é que o mundo não está preparado para aceitar pessoas diferentes.
- Puxa... O mundo aceitou o Michael Jackson! - insistindo Adenair.
Mas Jeitosinha estava decidida.
- A vingança vai começar. Papai será a primeira vítima.
- Qual é o seu plano?
- Amanhã é sábado. Neste dia, à noite, todos os nossos irmãos saem para se divertir. Mamãe tem a novena na casa de Dona Nair e papai e eu, nós dois costumamos ficar sozinhos em casa.
Adenair ouvia com atenção o plano traçado por Jeitosinha na noite anterior.
- Papai terá uma morte violenta, sangrenta. Algo tão hediondo que ninguém suspeitará que o crime possa ter sido praticado por uma pessoa como eu, uma jovem loira, maravilhosa e frágil...
- E como eu poderei ajudar? Perguntou Adenair.
Jeitosinha esboçou um sorriso estranho e respondeu, num tom seco:
- Me arranje uma serra elétrica!

Terá nossa protagonista o sangue frio para concretizar seu plano macabro?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Capítulo VI - O Plano Macabro de Jeitosinha


Dos seis irmãos, só o mais velho não se dava bem com Jeitosinha. Todos os outros nutriam um enorme carinho pela caçula. Adenair, o sexto filho, um ano mais velho que ela, era o grande amigo e confidente da moça.
- O que foi, Jeitosinha? Você parece distante... - perguntou o irmão, durante o café da manhã.
Jeitosinha percorreu a cozinha com os olhos e certificou-se de que os dois estavam sozinhos.
- Maninho, você saberia guardar um segredo muito importante?
O moço gelou por dentro. Embora Jeitosinha não suspeitasse, Adenair também guardava um mistério. Ele balançou a cabeça positivamente, respondendo à pergunta.
- Então, vem comigo...
A loira puxou o irmão pela mão até o seu quarto. Trancou a porta e desabotoou a calça jeans.
- O que é isso? O que você está fazendo, Jeitosinha?
Sem dizer uma palavra, Jeitosinha exibiu seu membro masculino a Adenair.
- Não! Não pode ser! Me diz que isso é de borracha! - reagiu o rapaz.
- É o que você está vendo, irmão... Eu sou homem!
- Não, Jeitosinha, isso aí não quer dizer muita coisa. - o olhar de Adenair era estranho.
- Eu também tenho um e... e... - Jeitosinha entendeu na hora.
Então não era por acaso que Adenair comprava todos os discos da Celine Dion e anotava as dicas da Ana Maria Braga.
- Adenair, você é gay?
- Sim! Minha condição é muito pior do que a sua! - confessou o irmão, entre soluços.
- Você pelo menos pode usar aquele vestidinho pink ma-ra-vi-lho-so que ganhou no Natal.
Jeitosinha abraçou Adenair e enxugou suas lágrimas com os dedos.
- Adenair, só me tira uma dúvida...
- É, fui eu sim! - emendou o rapaz.
- Sua Barbie está no fundo da minha gaveta de meias. - e agarrou-se a Jeitosinha com uma enorme sensação de alívio.

Juntar-se-á Adenair à irmã no seu plano de vingança?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Capítulo V - A Reação de Bruno


Desilusão, medo, vergonha. Sentimentos variados dominavam a cabeça de Bruno quando Jeitosinha lhe expôs sua triste verdade. Sentia que ainda a amava e até compreendia que ela era a grande vítima desta trapaça do destino. Mas o amor estava isolado por um intransponível muro de aversão.
- Não podemos continuar juntos, meu amor! Eu sou hétero!
- Mas Bruno... Eu continuo sendo a mesma!
- A mesma? Com aquela coisa enorme, que parece um celular tijolão daqueles antigos? Não, Jeitosinha, lamento, mas está tudo acabado entre nós!
"O que somos nós senão vermes rastejantes num enorme teatro do absurdo?" - pensou a loira, tomada pelo desânimo.
Jeitosinha voltou para casa com passos lentos, como se carregasse o mundo nas costas. Ao entrar em casa deparou-se com Ambrósio.
- Onde você estava, tesouro? Papai já lhe disse que uma mocinha frágil não pode ficar zanzando por aí sozinha!
Embora fosse um homem rude e violento, Ambrósio era sempre doce e atencioso com Jeitosinha. Por isso mesmo a filha, até então, o adorava. Mas agora, sabendo que vivia uma farsa, e que a origem de todo o seu sofrimento era o medo imposto a Marilena por aquele homem, sentia asco só de olhar para o seu rosto nauseabundo.
Vingança! Era tudo o que Jeitosinha queria naquele momento! A vingança penetrou cada pequena artéria de seu coração, antes ocupado pelo amor que sentia por Bruno. Controlando o tom de voz e forçando um sorriso, Jeitosinha respondeu ao pai:
- Estava estudando com umas amigas. Estou com muita dor-de-cabeça e vou me deitar, papai.
A moça trancou-se no quarto e tirou da bolsa uma revista pornográfica, que acabara de comprar numa banca próxima à casa de Bruno.
- Então são assim os homens e mulheres! - disse baixinho para si, enquanto folheava a publicação.
Completamente nua, viu no espelho que era uma mulher perfeita. Comparou seu pênis com o dos atores pornôs da revista. Eram muito parecidos, embora o de Jeitosinha fosse maior. Tocou-se como nunca havia se tocado. Deixou-se dominar pela libido, livre da repressão imposta pelo pai.
Ao se deitar para dormir, Jeitosinha estava muito triste, mas não havia perdido a razão de viver. Ela sabia que tinha uma missão: destruir Ambrósio, Marilena e Bruno.

Qual será o plano macabro de Jeitosinha?

terça-feira, 10 de março de 2009

Capítulo IV - A Reação de Jeitosinha


O mundo desabou diante dos olhos de Jeitosinha. Tudo o que ela pensava ser, todos os seus sonhos de menina e a possibilidade de um orgasmo múltiplo eram subitamente arrancados para sempre de sua vida! E o que ela diria a Bruno, seu amado, um rapaz de boa índole que trabalhava como caixa no Banco do Brasil?
- Nunca vou te perdoar! Porque, mamãe? Porque você fez isso comigo? - saltava de seus olhos cor de esmeralda a revolta, como ondas de fogo.
- Calma, querida! Ainda posso desfazer meu erro! A gente conta tudo pro seu pai, eu compro pra você umas cuecas, você corta este cabelo, aprende a cuspir e coçar o saco... Enfim, você recomeça sua vida!
- Mas você não entende, mãe? Eu me sinto mulher!!!
- Tá vendo como tudo tem um lado positivo? Você é um traveco e mamãe aceita!
As justificativas de Marilena não estavam ajudando muito. Desesperada, Jeitosinha saiu de casa e vagou durante horas pelas ruas da cidade. Acabou concluindo que o melhor a fazer era procurar Bruno e dividir com ele sua angústia. "Se ele realmente me ama, vai me aceitar como eu sou," pensou.
O rapaz surpreendeu-se ao abrir a porta e encontrar sua amada. Pela rigidez moral de sua criação, Jeitosinha jamais iria até o apartamento de um rapaz solteiro.
- Você aqui, querida?
A moça entrou muda e sentou-se no sofá. Bruno toca seu rosto.
- Você está estranha. É porque não te liguei? Desculpe, mas perdi meu telefone celular!
- Não é isso, Bruno - sussurra Jeitosinha.
Encarando o amado fixamente ela pede, com a voz trêmula:
- Me beija! Me beija como se fosse nosso último beijo de amor!
Ondas de calor percorrem os corpos dos dois jovens. Bruno começa a explorar o corpo da amada com as mãos, numa liberdade que nunca experimentara antes.
- Tenho algo importante a lhe dizer, Bruno - diz a bela loira, no exato momento em que os dedos do rapaz percebem um inesperado volume entre as pernas de Jeitosinha.
- Já sei, amor - responde Bruno, abrindo um sorriso.
- Já sabe? - surpreende-se a moça.
Bruno aperta levemente o pênis da loira.
- Claro, querida! Estou sentindo. Voce achou meu celular!

Aceitará Bruno a bela Jeitosinha?

segunda-feira, 9 de março de 2009

Capítulo III - A Revelação


Só a voz de taquara rachada e a sandália número 41 davam indícios do segredo que envolvia a natureza de Jeitosinha. Mas o que todos viam era uma loira de 1,70m, cabelos sedosos até a cintura, cativantes olhos verdes, cintura fina, coxas grossas e bem torneadas, seios pequenos e uma bunda perfeita.
- Como ela consegue não ter nenhuma celulite? Parece bunda de homem! - alfinetavam as amigas.
Era sobre a beleza e a feminilidade da filha que Marilena pensava quando a chamou para uma conversa definitiva.
- Querida, tenho algo muito importante a lhe revelar.
- O que foi, mamy? - perguntou Jeitosinha, apreensiva, lendo a angústia nos olhos da pobre senhora.
Marilena respirou fundo e foi diretamente ao ponto central do problema, como se tentasse extirpar com um único golpe o câncer moral que atormentava sua existência:
- Você não é uma mulher.
- Claro que não mamãe!
- Você já sabia, Jeitosinha? - surpreendeu-se Marilena.
- Claro, tenho minhas amigas na escola. Embora você nunca tenha me falado sobre essas coisas, eu sei que não sou mulher.
Marilena respirou aliviada.
- Então você já sabia que...
- Sim, mamãe. Eu ainda sou uma donzela.
Por um instante Marilena deixou-se abater pelo desânimo. Pensou em sumir, dar cabo da própria vida, qualquer coisa que a livrasse da enorme decepção que teria que causar à filha. Mas Jeitosinha era uma garota doce e compreensiva. E mesmo sendo loira, devia ter, mesmo que instintivamente, a percepção de que não era uma moça como as outras.
- Querida... - perguntou Marilena - Você nunca notou nada de estranho no seu corpo?
- Bem, mamãe... - respondeu Jeitosinha, encabulada - Eu nunca entendi muito bem porque eu sinto uma dor horrível entre as pernas quando uso uma calcinha apertada ou tomo uma bolada no vôlei...
- O que mais, minha filha?
- Hmmm... Nas aulas de Educação Sexual eu tenho uma certa dificuldade em entender por onde é que os homens depositam na gente as tais sementinhas...
Era a oportunidade que Marilena esperava para contar à menina toda a verdade.

Como reagirá Jeitosinha à constatação de que é espada?

domingo, 8 de março de 2009

Capítulo II - A Farsa


Não foi difícil esconder do pai da criança a verdade sobre Jeitosinha. Ambrósio era um homem conservador e moralista, embora seus atos não correspondessem à disciplina rigorosa que impunha aos filhos e à esposa. Por esta razão, ninguém estranhou que desde muito cedo a caçula tenha sido criada em total isolamento em relação aos seis irmãos, sob o olhar atento de Marilena.
Para Ambrósio e os vizinhos, a intenção da mãe era preservar a honra e inocência da filha. A menina era o tesouro do pai. Sem contato íntimo com outras crianças, a própria Jeitosinha cresceu desconhecendo sua real condição de travesti. Os traços finos da criança colaboravam, e quando a adolescência chegou, Marilena passou a misturar hormônios femininos ao Biotônico Fontoura que dava diariamente à menina, com resultados surpreendentes.
Aos 20 anos, Jeitosinha era não apenas uma mulher, mas a mulher mais bonita do bairro. Foram raros os incidentes que ameaçaram revelar o segredo de Marilena. O mais grave aconteceu quando a menina tinha 15 anos. Era uma tarde de domingo quando Arlindo, o irmão mais velho, entrou na sala gritando:
- Eu vi a Jeitosinha fazendo xixi em pé! Eu vi a jeitosinha fazendo xixi em pé!
Com presença de espírito, antes mesmo que Ambrósio raciocinasse sobre a frase, Marilena deu um safanão no rapazote:
- Espiando sua irmã no banheiro, não é, safado?
Diante da possibilidade de que a intimidade inocente de sua filhinha tivesse sido violada, Ambrósio deu uma surra de cinto no pobre Arlindo. Só depois de muitas chibatadas e que foi cair a ficha:
- Peraí, moleque. Você disse que viu sua irmã mijando em pé? Que historia é essa?
Mas quando Arlindo saiu do coma, uma semana depois, o pai já nem se lembrava mais da pergunta formulada segundos antes dele perder os sentidos. Para Ambrósio, tratava-se apenas de uma brincadeira do jocoso Arlindo.
Aqueles foram dias difíceis para Marilena. Mas a crise que aquela pobre mãe zelosa enfrentava agora, cinco anos depois, era muito mais grave. Estava chegando a hora de contar a verdade à filha: Jeitosinha estava apaixonada.

Resistirá Jeitosinha à trágica revelação de sua natureza?

sábado, 7 de março de 2009

"JEITOSINHA"



A que era sem nunca ter sido...




Capítulo I - O Nascimento de Jeitosinha

Ambrósio e Marilena já tinham seis filhos, mas a iminência da chegada de um sétimo rebento criava um clima de tensão no lar. As seis tentativas anteriores não foram suficientes para realizar o sonho do homem: ser pai de uma menina.
Contínuo num banco de pequeno porte, indivíduo de temperamento difícil e tendo sido vitima de tortura (durante a infância era obrigado a se vestir de marinheiro e usar botinhas ortopédicas), Ambrosio vivia como uma bomba prestes a explodir.
Por isso Marilena nem se espantou quando o marido, com um tom de voz até doce se comparado ao tratamento habitual que dispensava a família, decretou:
- Se for outro cueca eu te mato sua vaca!
Para a sorte da pobre mulher, Ambrosio estava no trabalho quando ela entrou em trabalho de parto. Ao conferir, com a criança ainda nas mãos da parteira, que se tratava de mais um menino, Marilena chorou convulsivamente.
Dona Nair, a velha parteira, tentou consolá-la com as palavras simples, porém sábia dos humildes:
- É depressão pós-parto. Estima-se que ela atinja 10% das puérperas. Ela pode ser severa e resistente ao tratamento farmacológico, mas o estrogênio em doses decrescentes, durante duas semanas, mimetizando o ciclo ovariano, tem sido eficaz em alguns casos, viu, fia?
- Não é isso, Dona Nair - interrompeu a mulher, entre lágrimas - o problema é que o Ambrosio vai me matar se souber que é outro varão.
Dona Nair era uma mulher experiente. Com um sorriso maroto, sugeriu:
- Se é assim, crie o garoto como se fosse uma menina. Ambrosio nunca saberá a diferença
- A senhora acha que isso pode funcionar? - animou-se Marilena.
- Já vi demais! Lembra daquela pivô que jogava na seleção de basquete?
Agarrando-se àquele fio de esperança, a mãe abraçou carinhosamente a criança e encheu-se de ternura.
- É... pode dar certo. Até que ele é jeitosinho...
- Jeitosinha, fia... - corrigiu Nair - Jeitosinha!

Conseguirá Marilena levar esta farsa adiante?

that's life

Os próximos tópicos serão dedicados a uma história de amor, drama, violência e mistério, como não poderia deixar de ser em um relato da vida como ela é.