sábado, 21 de março de 2009

Capítulo XV - A Angústia de Bruno


O júbilo de Jeitosinha durou pouco. Se num primeiro momento a idéia de ter salvo a humanidade era alentadora, horas depois o que a fantástica experiência lhe causara era revolta e dor. De que adiantava ter salvo o mundo, se não obteria pelo seu ato qualquer tipo de reconhecimento? Para o restante da humanidade, ela continuava sendo aquele ser anacrônico e discriminado por fugir dos padrões estabelecidos. Só uma pessoa na cidade estava se sentindo mais angustiado: Bruno.
Num bairro distante, trancado em seu apartamento, o pobre rapaz refletia sobre a grande - e como era grande! - emoção que sentiu na sua primeira noite de amor com Jeitosinha.
"Será que eu gostei porque era a minha amada?" - perguntava-se. "Ou será que tamanho prazer adveio do fato de que se tratava de um homem? Serei gay? Serei hétero?".
- QUEM É VOCÊ? - gritou Bruno, angustiado, olhando sua imagem no espelho.
Sentia-se sujo. Seus desejos o incomodavam, como se tivesse experimentado a fruta do pecado. Mas sabia que Jeitosinha era uma vítima, como ele. Entendia que a namorada era um modelo de virtude e pureza e que seu gesto, ao seduzi-lo, era apenas uma grande demonstração de amor. Por um momento, olhou para o problema sob outra perspectiva muito menos dramática.
"Sim, Jeitosinha é pura. É a minha Jeitosinha. E em nome desta pureza vale a pena continuar com ela!" - concluiu. "Se ela fosse um travesti vulgar... mas não! Ela foi criada como uma moça de família, sob rígidos padrões morais! Quem sabe ainda podemos ter uma vida juntos, mantendo sua condição em segredo?" - pensava.
Num fragmento de sonho, Bruno viu-se casado com ela, vivendo grandes noites de amor e criando crianças adotadas como se fossem seus filhos biológicos, os sonhados Cléverson e Suélen. Pensou em procurar a sua doce amada naquele mesmo momento e propor a realização do casamento, outrora tão desejado em tempos menos complicados.
Antes, porém, precisava enfrentar seu próprio demônio interior. Precisava saber o que sentiu naquela noite mágica: Amor? Volúpia? Precisava, enfim, fazer amor com outro travesti e colocar-se à prova.
Bruno resolveu que iria a um bordel atrás de respostas. Iria buscar reviver, com uma vulgar criatura da noite, emoções tão, digamos, grandes quanto as que viveu com sua inocente Jeitosinha.
Mal poderia imaginar a grande surpresa que o esperava.

Conseguirá Bruno sanar sua grande dúvida?

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