quinta-feira, 19 de março de 2009

Capítulo XIII - A Reviravolta


A família finalmente percebeu que Ambrósio estava desaparecido. Ele não havia voltado da pescaria nem dado sinal de vida. Marilena chamou a Polícia, que pareceu não dar muita importância à ocorrência. Os dois policiais fizeram poucas perguntas, anotaram um boletim de ocorrência de forma burocrática e se foram em poucos minutos, levando uma foto do homem.
Jeitosinha chegou em casa quase na hora do almoço. Os irmãos não perceberam que ela passara a noite fora, mas sua mãe sim.
- Onde você estava? - perguntou Marilena. Jeitosinha ignorou a abordagem.
- Sorte sua seu pai não estar por aqui. Ele não ia gostar disso. - insistiu Marilena, com um tom seco de reprovação na voz.
A resposta da filha foi carregada de ironia:
- O que poderia preocupá-lo, mamãe? O risco de que eu perca a virgindade ou volte grávida para casa?
Marilena tentou acariciar o cabelo da filha, que afastou sua mão com um gesto brusco.
- Não me encoste! Eu odeio você! - um fio de lágrima escorreu pela face esquerda da sofrida mãe.
- Querida, você é tão jovem, tem uma vida pela frente! Ainda há tempo de encontrar a felicidade.
- Como eu poderia ser feliz? Eu sou uma mulher aprisionada no corpo de um homem!
- Veja o lado positivo.- tentou consertar Marilena. - Você não tem tensão pré-menstrual, não precisa sentar-se em privadas sujas de boate.
"Mantenha a calma e a resignação. Você ainda encontrará um homem que a aceite como você é!" - conjecturou Jeitosinha. "Este homem talvez seja Bruno. Mas como ele estará se sentindo depois da nossa estranha noite de amor?"
Ela pensou durante todo o dia no seu amado, reunindo forças para enfrentar sua primeira noite no bordel. Curiosamente, a expectativa de entregar-se a estranhos não a incomodava.
Desde a revelação de sua condição, ela não se reconhecia naquele corpo. Não sentia que tivesse que zelar dele.
Era nove da noite quando Jeitosinha entrou no carro de Arlindo, rumo à casa de encontros. O local ficava próximo, mas era preciso percorrer um pequeno trecho em uma estrada pouco movimentada. Justamente quando passavam pela parte mais escura e deserta do percurso, uma luz surgida do nada cegou momentaneamente Arlindo, impedindo-o de dirigir. O rapaz pisou no freio abruptamente. Antes que pudessem esboçar qualquer reação, as duas portas do carro foram abertas, e o casal foi retirado de dentro do veículo por mãos poderosas.
Pouco antes de tomar uma descarga elétrica que a faria perder os sentidos, Jeitosinha pôde ver a silhueta de seus raptores: eram homens de baixa estatura, vestindo estranhos macacões prateados.

Tornar-se-á nossa história um seriado de ficção científica?

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