quinta-feira, 26 de junho de 2008

nunc et in hora mortis nostrae

Esta semana o Telecine Cult nos brindou com uma verdadeira jóia. O filme "O Leopardo" (Il Gattopardo) de Luchino Visconti, 1963, baseado no livro homônimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. O ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1963 conta uma parte da história da unificação da Itália, Il Risorgimento, sob o ponto de vista de um aristocrata, o Príncipe de Salina, que, após o desembarque de Giuseppe Garibaldi na Sicília percebe o início do fim da aristocracia rural e da sociedade construída à base de benesses e privilégios. A partir de então começa a trabalhar a união de seu sobrinho com a filha de um rico burguês. O matrimônio significa a conciliação da aristocracia falida e decadente com a burguesia enriquecida e ascendente. É tudo aquilo que o príncipe deseja. Mudar sem tirar as coisas do lugar.
Além da beleza plástica podemos nos deliciar com as interpretações magestosas de Burt Lancaster, Claudia Cardinale e Alain Delon. Uma das seqüências mais bonitas da história do cinema, que dura 45 minutos, é no final do filme, um longo baile em que nobres e burgueses compartilham o mesmo espaço, fato até então inimaginável. Fabrizio de Salina passeia pelos diversos salões da mansão em que o evento se realiza. Sente a morte se aproximar. Percebe que seu tempo já passou. Que não faz mais parte daquele mundo. Crônica de uma morte anunciada. Morte não física, mas sobretudo da alma e do espírito. Resta-lhe retirar-se desta vida, em direção à escuridão.

Algumas curiosidades sobre o filme e o livro:
  • O livro se inicia com a frase final da oração da Ave Maria: "Nunc et in hora mortis nostrae" (Agora e na hora da nossa morte).
  • O nome do romance teve origem no brasão da família Tomasi e é assim referido: "Nós éramos os leopardos, os leões; esses que nos substituíram são os chacais, as hienas; e todos os leopardos, chacais e ovelhas continuarão a acreditar no sal da terra."
  • O livro foi primeiramente recusado para publicação, esta só ocorrendo postumamente.
  • Em edição de luxo, lançada pela Versátil, o filme chega finalmente ao Brasil em sua versão original italiana de 185 minutos, 20 minutos mais longa que a versão da Fox, que circulava até então. Nela, o clássico retoma suas cores originais mais crepusculares do que as da edição americana, restauradas pelas mãos habilidosas de Giuseppe Rotunno, diretor de fotografia do filme.
  • O autor Tomasi di Lampedusa era, ele próprio, um príncipe decadente, assim como Visconti, sabidamente um aristocrata e também comunista.
Obrigatório para quem gosta pelo menos um pouquinho de cinema. Buono divertimento!

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