segunda-feira, 21 de julho de 2008

the cry for the spilled milk

Desculpem-me pelo título da postagem, acho que forcei um pouco né? Enfim, quem, honestamente, nunca disse ou pior, escreveu coisas de que se arrependeu depois? Nestes tempos globalizados, onde os e-mails são recebidos quase que instantaneamente, não dá tempo de voltar atrás. Quando se percebe, já foi. Não dá pra tentar pegar de volta com o carteiro. E quem recebe, lê na hora, não pensa duas vezes. E é assim que são feitas as cagadas que depois não têm conserto. Já era. O choro pelo leite derramado de nada adianta e o jeito é se conformar em passar por ridículo. Afinal,

"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"

Álvaro de Campos, em 1935 (heterônimo de Fernando Pessoa)

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