domingo, 5 de abril de 2009

Capítulo XXVIII - Desfechos Finais


Alguns dias se passaram desde a morte de Ambrósio. Adenaíra vinha se recuperando da infecção hospitalar. Bruno a levara para sua casa e a convivência era amigável. A nova moça se esforçava para transformar aquele apartamento de solteiro em um lar, e o rapaz gostava de sua companhia. Mas não conseguia esquecer Jeitosinha e ainda sentia um enorme, digamos, vazio por dentro.

Como era de se esperar, os exames periciais confirmaram que tratava-se da letra de Ambrósio no bilhete. Provaram também que as digitais eram mesmo de Arlindo. Impotente diante da armadilha da irmã, e diante das péssimas condições da carceragem, o rapaz simplesmente enlouqueceu. Ora pensava ser Napoleão, ora delirava como Fernando Collor.

Na casa de Jeitosinha, todos se esforçavam para retomar às rotinas de suas vidas. Adenaíra escrevera contando da operação e de como estava feliz com sua nova condição. Omitira, entretanto, que era hóspede de Bruno.

No bordel de Madame Mary, Jeitosinha buscava superar a perda do seu amado nos braços de Beth Balanço. O treinamento da loira continuava. Na penumbra do seu escritório, a cafetina continuava instruindo Jeitosinha sobre os mistérios do amor e do sexo, mas ainda eram apenas aulas teóricas, o que já estava deixando nossa heroína impaciente.
- Às vezes sinto que a senhora, deliberadamente, está adiando minha estréia profissional. - questionou um dia Jeitosinha.
Pela primeira vez, a sempre segura Madame Mary pareceu incomodada.
- Que bobagem, querida. Já lhe disse, tenho uma imagem a zelar. Tudo virá a seu tempo.
Jeitosinha vinha se abrindo cada vez mais com a patroa. Chegou a confessar o atentado com a serra-elétrica, o plano que incriminou Arlindo e o desejo de se vingar da mãe.
Madame Mary a tudo ouvia, sem emitir qualquer opinião. Naquela tarde, entretanto, encontrou Jeitosinha mais fragilizada do que de costume.
- O que houve, criança? - perguntou a cafetina.
- Não sei o que está havendo comigo, Madame Mary. - disse a loira, com a voz embargada.
- Talvez seja a falta de Bruno, ou o remorso por ter tirado a vida do meu pai. Mas o fato é que estou fraquejando. Começo a achar que talvez mamãe não seja assim tão culpada pelo meu destino. Talvez seja a maior das vítimas, preservando um segredo por tantos anos apenas para poupar a todos da ira de Ambrósio.
- O que você quer dizer com isso? - perguntou Mary.
- Quero dizer que estou cansada de ódio e sofrimento. Vou buscar minha felicidade. E começarei procurando mamãe e dizendo que a perdôo.
- Não creio que você precise procurá-la. - disse Madame Mary, num tom de voz bastante familiar.
A mulher aproximou-se do fraco abajur que iluminava o escritório, e, com lágrimas banhando o rosto, retirou sua máscara.
- Mamãe? É você! Não pode ser!
- Claro que sou eu, querida. Você acha que com o salário de contínuo do seu pai conseguiríamos criar sete filhos e ainda comprar pra você a coleção completa da Barbie?
- Então é por isso que o meu treinamento nunca terminou! Você não queria prostituir a própria filha!
- Sim, este foi apenas um dos muitos sacrifícios que fiz por você. Fui eu quem joguei fora os restos mortais de Ambrósio e limpei a bagunça na sala. O telefonema e o bilhete falando da pescaria também foram invenções minhas.
- Então... papai realmente havia morrido? - espantou-se.
- Sim! Só não me pergunte como ele voltou à vida. Talvez tenha sido um milagre dos céus para poupá-la, Jeitosinha. Você já havia sofrido demais, e aquele plano da serra-elétrica era simplesmente ridículo. Você deixou suas digitais espalhadas pela casa inteira! O segundo crime foi muito mais requintado, e ainda puniu o chantagista do Arlindo.
Jeitosinha abraçou a mãe, emocionada. Finalmente, quase tudo parecia se encaixar. Era um tempo de recomeço. De repente, Jeitosinha percebeu que o bordel nunca fora seu lugar. O que de fato a atraía era o magnetismo de Madame Mary, que não era ninguém menos que a sua Marilena. Não fosse a saudade que sentia de Bruno, tudo estaria perfeito em sua vida.
No final daquela tarde, Jeitosinha se despediu das colegas de bordel.
- Vou tirar um tempo para mim. Preciso repensar minha vida. Talvez volte a esta casa como auxiliar de mamãe, não sei. O importante é que fiz muitos amigos aqui.
Beth Balanço chorava copiosamente.
- Está tudo acabado entre nós? - perguntou.
- Sim, Beth, não adianta. Bruno é o meu único amor. Preciso esquecê-lo antes de poder recomeçar com outra pessoa.
Beth pareceu entender. Tanto que deu a Jeitosinha um conselho bem prático:
- Se você o ama tanto, porque não tenta uma reaproximação? Tudo bem, ele pensa que você é uma de nós, mas você, em contrapartida, flagrou-o nos braços da Kátia Trovoada.
Kátia, o traveco moreno que possuiu Bruno, espantou-se:
- Aquele era o seu bofe? Ih, menina, você está sofrendo à toa!
- Como assim? - surpreendeu-se Jeitosinha.
E Kátia começou a narrar o diálogo que ela e Bruno tiveram antes do ato de amor.

Quais serão as revelações de Kátia?

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